Qual a importância do cinema na sala de aula?

A obra de Glauber Rocha, assim como a de Kluge, propõe uma reflexão complexa sobre os contextos políticos e sociais que moldam o comportamento humano. A personagem central de Paulo Martins é um intelectual que, ao longo do filme, se vê dividido entre diferentes correntes políticas e suas próprias convicções ideológicas, o que representa uma crise de identidade frente a um cenário de opressão e manipulação. Essa narrativa de crise e contradição pode ser vista como uma tentativa de representar o “irrepresentável”, uma característica que Kluge identifica em suas próprias produções cinematográficas, ao discutir como o cinema lida com eventos históricos e traumas coletivos. Entretanto, para que o cinema seja utilizado de forma eficaz e não apenas como recurso auxiliar, é necessário adotar abordagens teóricas e metodológicas que explorem criticamente seu potencial, transformando-o em uma fonte legítima de aprendizado e reflexão. Por fim, a estética da fome, conceito proposto por Glauber Rocha, é plenamente realizada neste filme, de forma que a escassez, a aridez e a brutalidade não são apenas temas da narrativa, mas também moldam a forma como o filme é estruturado e visualizado.

A obra questiona a manipulação do poder e a alienação das massas, temas que dialogam com as ideias de Ferro sobre o papel do cinema como instrumento de doutrinação ou contestação política. Por fim, o uso do cinema no ensino de História deve ser pensado como uma ferramenta dialógica, dessa forma, o filme ao ser exibido em sala de aula não deve ser visto como um “fim” em si, mas como um ponto de partida para debates, reflexões e investigações mais amplas. O papel do professor é mediar essas discussões, incentivando os alunos a expressarem suas interpretações, dúvidas e críticas sobre a obra cinematográfica, ao mesmo tempo em que fornece as ferramentas teóricas e metodológicas necessárias para uma análise mais profunda (Schvarzman, 2007). Além disso, o cinema oferece uma oportunidade única de explorar a dimensão sensorial e emocional da História, de forma que filmes históricos costumam provocar forte impacto visual e emocional, uma vez que recriam ambientes, figurinos, e personagens que transportam os espectadores para o passado.

Mesmo reconhecendo que a sociedade contemporânea está absolutamente mergulhada num mundo de imagens, esta é uma proposta de trabalho inovadora e ousada que ainda não foi completamente absorvida pelo mundo acadêmico. Por esse motivo, é importantíssimo entender que a utilização do audiovisual na escola dá a possibilidade de trabalhar a visão e a narrativa do que é real, ou seja, apreciar a realidade via cinema, dando a oportunidade ao aluno e a todos os interessados Onde assistir desenhos de ter a possibilidade de poder ter seus pontos de vistas renovados. É mister que o fundamental em todo o processo educativo é usar intencionalmente todos os recursos disponíveis e que eles sejam integrados ao planejamento didático, dando assim a oportunidade aos alunos de aprender mais eficazmente e com qualidade. E isso pode ser feito em todos os níveis de ensino, porque consideramos que o vídeo pode ser, ou é, uma ferramenta importante e produtiva, desde que seu uso seja bem planejado. Em consonância com tais afirmações e observações, podemos fazer uma aplicação dos pontos abordados usando exemplos de como isso pode ser feito no ensino da História em todos os níveis.

Em vez de se concentrar apenas em uma “grande história” oficial, o cinema permite que os alunos se aproximem de experiências individuais e coletivas, como a vida de pessoas comuns, minorias étnicas, ou movimentos sociais que muitas vezes são marginalizados nos relatos tradicionais (Pinto, 2011). No Brasil dos anos 1960, o país passava por grandes transformações políticas e sociais, especialmente com a instalação da ditadura militar em 1964, já que, dentro do contexto de repressão política, censura e crise de identidade nacional impactou fortemente o ambiente cultural e intelectual da época. Terra em Transe emerge nesse cenário como uma resposta às tensões políticas e sociais que dominavam o país, e sua estética visual reflete tanto o caos e a instabilidade quanto as contradições que moldavam a realidade brasileira.

Durante a aula, os alunos deverão desenvolver habilidades como o pensamento crítico, a análise de conteúdos, a capacidade de expressar suas opiniões e o debate de ideias. A unidade temática abordada nesta aula será o uso de filmes para o ensino de conteúdos acadêmicos e sociais. São as imagens e os sons que primeiro se apresentam, mas a linguagem audiovisual, movimento, cor, é composta de muitos elementos e muitas nuanças, sintetizados em uma narrativa. Os elementos que compõem o cinema estão, desde há muito, partilhando da vida de todos os que habitam este planeta girante. Os alunos serão incentivados a compartilhar suas impressões e a formular perguntas sobre o que assistiram.

Nesse sentido, podemos considerar que o uso do cinema no ensino de História seja importante para tal desenvolvimento. Pode-se afirmar que o cinema é uma forma poderosa de representar realidades sociais e políticas, atuando como um espelho de sua época e, ao mesmo tempo, como uma construção ideológica. Terra em Transe se insere nessa discussão ao retratar uma alegoria política, que combina elementos históricos do Brasil e da América Latina, misturando ficção e realidade em um espaço fictício, o país de Eldorado. Nesse sentido, o filme utiliza a arte cinematográfica como um meio de crítica ao cenário político da época, especialmente ao regime militar e à instabilidade das democracias latino-americanas.

Qual o objetivo do filme no processo de ensino e aprendizagem?

Projeto radiciação 6º ano

A cinematografia de Terra em Transe é uma síntese dessa proposta, utilizando imagens e cenários que carregam simbolismos profundos e que dialogam diretamente com o contexto histórico do período (Morettin, 2014). Assim, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” não é apenas um retrato da vida no sertão, mas uma crítica feroz às estruturas sociais e políticas que perpetuam a miséria e a violência no Brasil (Soares, 2014). Dentro de um contexto onde o mundo se encontra cada vez mais multimidiático, o cinema também tem o papel de alfabetizar os alunos em termos de linguagem visual, pois torna-se fundamental que os estudantes aprendam a interpretar textos escritos. Assim, é igualmente importante que desenvolvam a habilidade de “ler” imagens, compreendendo a gramática visual que permeia os filmes. Isso inclui entender como enquadramentos, ângulos de câmera, iluminação e trilha sonora podem influenciar a narrativa e a interpretação do espectador.

Como analisar um filme em sala de aula?

Logo, tendo em vista essa argumentação, foram separados alguns planejamentos didáticos com filmes selecionados que fazem uma abordagem de conteúdos que são aplicados no Ensino Médio, os quais poderão ajudar alunos de escolas técnicas, que possuem pouco tempo disponível para as disciplinas de Ciências Humanas, em especial para História. Por fim, faz-se importante destacar o contexto histórico no qual Terra em Transe foi produzido. O Brasil da década de 1960 estava imerso em uma série de transformações políticas, com o golpe militar de 1964 e o estabelecimento de um regime autoritário. Nesse cenário, o cinema novo emerge como um movimento que busca questionar as estruturas de poder e propor uma nova estética cinematográfica, que não se limite às convenções comerciais de Hollywood. A revisão da literatura sobre cinema e história, especialmente no que diz respeito ao papel do cinema em regimes autoritários, permite compreender melhor o impacto político de obras como Terra em Transe, que funcionam tanto como denúncia quanto como reflexão crítica sobre o poder e a alienação.

Essa escolha estética foi uma tentativa de retratar o Brasil de forma mais autêntica e crua, aproximando o espectador das realidades sociais e econômicas do país. Além disso, ao rejeitar o artificialismo do estúdio e das produções anteriores, o cinema novo consolidou um compromisso com a verdade social, trazendo à tona o contraste entre a modernidade das elites urbanas e a miséria das classes trabalhadoras (Figueira, 2020). Entretanto, conforme aponta Gianelli (2023), apesar de seu enorme valor, o cinema não pode ser encarado como uma única fonte de informação em ambiente educacional, assim, o caráter dramatúrgico e criativo das produções cinematográficas muitas vezes conduz a uma estilização dos fatos históricos, com o objetivo de atender às exigências narrativas e de entretenimento da indústria.

Quais são os elementos de um filme?

Por outro lado, usar filmes em sala de aula pode ser trabalhoso para o professor, porque ele deve escolher o filme certo, preparar um plano de aula eficaz e preparar os alunos para a discussão. Os recursos necessários para a implementação do projeto incluem uma seleção de filmes relevantes, projetor, tela, materiais de apoio como guias de discussão, folhas de atividades, além de acesso à internet para pesquisa e complementação das atividades. É importante que os filmes escolhidos sejam adequados à faixa etária dos alunos e que abordem temas pertinentes ao currículo escolar. São as intenções educativas em termos de capacidade que devem ser desenvolvidas pelos alunos ao longo da escolaridade para ajudar os alunos a desenvolver as capacidades (cognitiva, física, afetiva, estética e ética) É de suma importância que cada um de nós enquanto professores aplicar os conteúdos de maneira tal que … Ao se pensar na película como ferramenta didática, para Silva (2019), o educador encontra, em filmes, possibilidades de trabalho com estruturas narrativas que abrem espaços para interpretações de significações imagéticas, sobre a realidade da vida cotidiana dos sujeitos. Assim, abre espaços para eixos temáticos, que fundamentam debates e discussões a posteriori.

É bem sabido que vários profissionais da Educação estão procurando se adaptar ao uso de mídias digitais no ensino e as escolas em geral têm feito adaptações para o uso de novas tecnologias. Todavia, vale ressaltar que ainda faltam muitos passos a serem dados para a efetivação do uso desse recurso alternativo pelos professores em sala de aula, tendo em vista que grande parte dos professores não possui treinamento ou não se interessa pelo uso desses recursos. Segundo Camila Fattori, psicóloga e coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa Cedac, “é necessário dar ao professor o mínimo de conhecimento, de treinamento”. Além disso, a representação ideológica em Terra em Transe pode ser analisada sob a luz dos pressupostos teóricos que discutem o cinema como um artefato de pensamento, como proposto por Alexander Kluge.

Aprenda a criar um plano de aula com filmes eficaz para transmitir conhecimento de maneira divertida. A utilização de filmes como formas pedagógicas em salas de aula, independente da temática ou gênero que o professor escolher, pode despertar no aluno o interesse pelo conhecimento e pela pesquisa, por meio o olhar. O filme pode ser utilizado como instrumental didático ilustrando conteúdos, principalmente referentes a fatos históricos; como motivador, na introdução de temas psicológicos, filosóficos e políticos, estimulando o debate; ou como um objeto de conhecimento, na medida em que é uma forma de reconstrução da realidade ( … Os objectivos de ensino-aprendizagem expressam intenções, propósitos definidos, explícitos quanto ao desenvolvimento das qualidades humanas.

O simbolismo dos cenários em Terra em Transe é igualmente central para a construção de sua narrativa visual, os espaços em que a trama se desenrola são frequentemente retratados como lugares de transição e tensão, em consonância com o estado de crise que caracteriza Eldorado. O palácio de Porfírio Diaz, por exemplo, é mostrado como um espaço de poder opressor, com suas salas amplas e frias simbolizando a alienação da elite em relação à realidade do povo. O palácio se destaca por seu vazio e sua grandiosidade, simbolizando o distanciamento e a indiferença dos detentores do poder diante da miséria e da instabilidade social.